10 de Dezembro de 2014. Este dia jamais será esquecido pelos amantes do futebol da Oceania. Demonstrando toda sua valentia, um grupo de verdadeiros guerreiros, cuja entrega à prática esportiva assemelha-se à essência do amadorismo e prazer típicos dos primeiros competidores, honrou não só o nome de uma instituição esportiva, mas de todo um continente. Após 120 minutos de peleja e uma disputa de pênaltis, o Auckland City Football Club conseguiu superar o Moghreb Athlétic de Tétouan, atual campeão marroquino, e está nas quartas-de-final do Mundial de Clubes.
Jogadores do Auckland City (foto) realizam treino antes da estreia no Mundial de Clubes 2014. Foto: Sportal
Antes do início do duelo, a atmosfera do estádio Príncipe Moulay Abdellah, em Rabat, era completamente favorável ao quadro marroquino: mais de 35 mil torcedores, incluindo muitos adeptos de times mais tradicionais do país, como Raja Casablanca, Wydad Casablanca e FAR Rabat, foram ao principal estádio da capital marroquina apoiar o Tétouan, equipe de menor tradição e sucesso recente no futebol marroquino, com duas conquistas na década atual (a Liga Nacional em 2012 e 2014).
Emiliano Tade (azul, Auckland City) perde dividida com Mohamed Abarhoun (branco, Moghreb Athlétic). Foto: EFE
Contrariando a expectativa dos que apostavam no debut de Sanni Issa com a camisa do Auckland City, Ramon Tribulietx optou pela escalação do ítalo-mexicano Fabrizio Tavano entre os 11 titulares, mantendo o time-base que realizou um período de aclimatação para o Mundial de Clubes em Dubai. Ao lado de Tavano, De Vries e Tade ficaram com a responsabilidade de levar o City ao ataque nas rápidas jogadas de contra-golpe.
Naim (branco, Moghreb Athlétic) sofre interceptação de Mario Bilen (azul, Auckland City). Foto: EFE
Logo nos primeiros minutos, porém, ficou claro que o City não apostaria somente nas jogadas de contra-ataque para chegar à meta de Lyousfi: tocando a bola no setor de meia-cancha, a equipe de Auckland aproveitava o nervosismo dos anfitriões e mantinha relativo controle da partida. Apesar de duas boas chances criadas pelo time da casa, a melhor oportunidade do primeiro tempo foi desperdiçada por Emiliano Tade: o argentino disparou para fora após ficar cara a cara com Lyousfi.
Tavano (25, azul, Auckland City) foi um dos bons nomes do City na noite heroica em Rabat. Foto: Goal.com
Na etapa complementar, o Auckland City reforçou-se defensivamente, principalmente após a entrada de Darren White no posto de Emiliano Tade. Porém, nervoso em campo, o quadro de Tétouan deixava o City chegar a seus domínios com certa tranquilidade, principalmente por meio das jogadas de velocidade arquitetadas por Iwata. O placar em branco manteve-se sem sinais de alteração até os acréscimos, quando Zaid Krouch perdeu a melhor chance dos alvirrubros na partida. Ao fim de 47 minutos, o guatemalteco Walter López determinou o fim da etapa complementar e a disputa de mais 30 minutos de prorrogação.
Tim Payne (azul, Auckland City) tenta interceptar Ahmed Jahouh (20, branco, Maghreb Athlétic). Foto: FIFA
Durante toda a prorrogação, o Moghreb Athlétic de Tétouan mostrou-se mais incisivo, buscando o gol da vitória. Porém, o time marroquino não demonstrava a organização tática que lhe garantiu o título nacional, apostando nos chutes a longa distância, sem direção. Nas raras chances do Auckland City, De Vries e Tavano, que seria substituído por Issa a 12 minutos do fim do tempo-extra, não tiveram a efetividade necessária. Com isso, a decisão do adversário do ES Sétif nas quartas-de-final do Mundial ocorreria por meio dos tiros penais.
Ryan De Vries (azul, Auckland City) escapa da forte marcação marroquina. Foto: FIFA
Logo na primeira cobrança, o remate de Jahouh foi defendido pelo ex-modelo e zoologista Tamati Williams, que saltou com firmeza no canto direito para defender o tiro do marroquino. Irving, Krouch, White e Fall converteram suas cobranças, até o croata Mario Bilen desperdiçar para o Auckland City, deixando para Naim a responsabilidade de empatar a disputa em 3-3.
Assista às cobranças de pênaltis que definiram a classificação do Auckland City às quartas-de-final do Mundial de Clubes. A súmula da partida pode ser conferida aqui
Naquele que seria o último disparo do Auckland City, o nigeriano Sanni Issa, recém-chegado do WaiBOP, teve personalidade para deslocar Lyousfi com um chute alto e recolocar o City à frente da disputa. Na última cobrança da série para o MAT, Khallati chutou na trave, para explosão de alegria dos comandados de Ramon Tribulietx. Com o 4-3 nos pênaltis, o Auckland City repete a façanha de 2009, quando avançou de fase no Mundial de Clubes, disputado nos Emirados Árabes Unidos.
Jogadores do Auckland City (azul) comemoram a classificação às quartas-de-final do Mundial de Clubes 2014. Foto: Getty Images
Após a partida, além de receber os aplausos de todo o Estádio Príncipe Moulay Abdellah, os jogadores do Auckland City puderam extravasar toda sua alegria e satisfação após contribuírem com uma das passagens mais gloriosas do futebol da Oceania. A alegria do professor de educação física Ramon Tribulietx, do estudante de direito Emiliano Tade, do zoologista Tamati Williams, do ex-capitão dos "All Whites" Ivan Vicelich e de todos os outros integrantes do plantel dos "Navy Blues" simbolizava, no gramado do principal recinto esportivo da capital marroquina, o sabor e a dimensão de uma histórica vitória para um grupo de valentes jogadores semi-profissionais, que deram ao mundo uma lição de disciplina, entrega e superação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário