terça-feira, 19 de julho de 2011

Especial: confira a histórica participação da Nova Zelândia no Mundial da Espanha, em 1982

Por Rodrigo Augusto e João Victor Gonçalves
  
  A equipe “Do outro lado da bola” segue com os seus especiais sobre as participações da Oceania em Mundiais da FIFA. Nesta matéria será focada a campanha dos “All Whites” em seu primeiro Mundial, em uma participação histórica, também pelo fato de ser o primeiro país a desbancar os “cangurus” nas Eliminatórias.
  A equipe neozelandesa precisou de 15 partidas para se qualificar ao Mundial, lembrando que as Eliminatórias da OFC foram em conjunto com as da AFC. Na primeira fase, as equipes enfrentavam apenas adversários do seu respectivo continente; na segunda fase, enfrentavam-se os melhores de cada uma das duas confederações. A equipe vinha embalada para tal campanha, esperançosa após vitórias em amistosos frente Austrália e México nos anos anteriores. O técnico John Adshead tinha à sua disposição o que de melhor havia no futebol local, desde os mais experientes como Brian Turner, Bobby Almond e 
Adrian Elrick até os novatos, como Grant Turner, Keith Mackay e Duncan Cole.

A campanha história da Nova Zelândia rumo à Espanha virou livro, escrito pelo treinador da seleção e seu auxiliar. Na capa, um jovem Ricki Herbert, atual treinador da seleção nacional, no duelo contra a China

  Na primeira fase das Eliminatórias foram 8 jogos, sendo 6 vitórias e 2 empates. O primeiro desafio dos neozelandeses foi contra a equipe. O primeiro desafio foi frente à Austrália, no Mount Smart Stadium, e, em um dos maiores clássicos da Oceania já vistos, as seleções empataram por 3-3. Posteriormente, uma fácil vitória contra Fiji por 4-0 animou os ânimos dos locais. Todavia, um gosto de decepção ficou com os neozelandeses após um empate sem gols, em Taipei, contra a seleção local, em um estádio que sequer atendia conceitos mínimos da FIFA.

Cartaz promovedo o encontro ante Taipei, com foto do último jogo frente a Indonésia; na fotografia, temos Turner (à esquerda), Herbert (ao centro) e Brian Turner (saltando)

  No returno do Grupo, a Nova Zelândia conseguiu a vitória que provaria o espírito de luta da equipe e sua disposição para chegar à Espanha: frente 100 mil pessoas, em Jacarta, vitória sobre a Indonésia por 2-0. Passada esta batalha, a confiança dos “kiwis” estava evidente para o encontro que, praticamente, decidiria o classificado para a próxima fase: em 16 de Maio de 1981, no Sydney Cricket Ground. Com gols de Wooddin e Turner, a Nova Zelândia conseguia a façanha de derrubar seu maior rival em solo inimigo: um 2-0 que calou Sydney e provou que a equipe de Adshead tinha condições de chegar em solo ibérico no ano seguinte.

A equipe da Nova Zelândia em abril de 1981. Na primeira fila (ao alto), vemos Adrian Elrick, Duncan Cole, Mark Armstrong, Grant Turner, Allan Boath, Dave Bright, Clive Campbell. Na fila do meio, temos Kevin Fallon (assistente técnico), Ricki Herbert, Brian Turner, Barry Pickering, Richard Wilson, Frank van Hattum, Glen Adam, Sam Malcolmson, John Adshead (técnico). Na fila da frente, vemos Steve Wooddin, Keith Mackay, Steve Sumner (capitão), Charlie Dempsey (presidente da NZ Football), Bobby Almond, John Hill e Glenn Dods

  Completando a campanha, três jogos selaram a  classificação da equipe para a 2ª Fase das Eliminatórias: um 2-0 sobre a Indonésia e Taipei e um jogo histórico contra Fiji. Com seis gols de Steve Summer, destaque da equipe nas Eliminatórias, a Nova Zelândia goleou Fiji por 13-0 (placar recorde em um jogo de Eliminatórias até então). Completando os recordes dos neozelandeses, o arqueiro Richard Wilson estabeleceu uma marca até hoje insuperável: ficou 921 minutos sem sofrer gols em jogos de Eliminatórias. 
  Todavia, a jornada dos Oceânicos rumo à Europa parecia longe de terminar e com incertezas quanto ao destino final. A equipe conseguiu a vaga no Quadrangular dos Campeões da AFC/OFC, que daria duas vagas ao Mundial. Pela frente, a disciplina tática chinesa, a Arábia Saudita, de boas campanhas no futebol asiático e uma surpreendente seleção do Kuwait, comandada por Carlos Alberto Parreira, com ganas de conseguir a classificação à Espanha.
  No primeiro desafio, a equipe foi aprovada: com uma forte retranca, os neozelandeses conseguiram segurar os chineses no Estádio dos Trabalhadores: 0-0. No jogo de volta, um gol de Herbert assegurou a vitória dos “kiwis”, frente 28 mil espectadores no Mount Smart Stadium, em Auckland.

Cartaz promocional para o encontro contra o Kuwait, em Auckland

  Após esse desafio, a jornada dos “kiwis” ficou mais difícil: em uma partida cheia de erros da arbitragem e confusão entre torcedores, a Nova Zelândia foi batida em casa pelo Kuwait, por 2-1. No jogo seguinte, um decepcionante empate contra a Arábia Saudita por 2-2. Restavam dois jogos. No encontro frente o Kuwait, longe de casa, a vitória parecida consolidada até o último minuto, quando os donos da casa empataram. Com isso, restava torcer contra a China e tirar a diferença de saldo imposta pelos mandarins.

Encontro contra a China em solo neozelandês

  A missão neozelandesa no último encontro parecia impossível: bater a Arábia por seis gols de diferença no forte calor saudita para ultrapassar a China no saldo de gols. Os “All Whites”, focados na conquista do resultado, partiram pra cima no primeiro tempo e anotaram cinco gols em 45 minutos. No segundo físico, o forte calor jogou contra, e o placar final ficou mesmo nos 5-0. Se o score final não dava ao país a vaga direta na Copa, proporcionava um jogo-extra frente à China, já que os países terminaram empatados em todos os critérios de desempate.
  10 de Janeiro de 1982. Essa foi a data do encontro decisivo entre Nova Zelândia e China, em Singapura. Mesmo sendo um território neutro para o confronto, a grande maioria dos 60 mil espectadores era favorável aos chineses. Apesar da umidade local e da pressão da torcida, os gols de Wooddin e Rufer colocaram os “All Whites” em vantagem. A China até descontou, mas não havia tempo para uma reação. Com o placar final apontando vitória neozelandesa, os “kiwis” entravam para a história ao conquistar a 24ª e última vaga para a Copa da Espanha.

A classificação para a Copa motivou a indústria neozelandesa a produzir artigos relacionados ao feito da seleção, como esse jogo, que traz na capa o arqueiro da Indonésia no encontro frente à Nova Zelândia, em Auckland

  Após uma classificação recorde, na qual os neozelandeses percorreram 55 mil milhas somando a distância para todos os jogos, os “All Whites” pensavam apenas em fazer de sua participação na Copa um momento mágico, já que já haviam vencido sua “Copa do Mundo própria” por meio das Eliminatórias.
  As dificuldades para os neozelandeses ficaram expressas durante a fase de preparação. O grupo da seleção no certame ficou conhecido como “Grupo da Morte”, dada a presença do Brasil, favorito ao título e dono de um dos melhores selecionados de todos os tempos, União Soviética, sempre forte nas competições esportivas e Escócia, contando com toda a tradição do futebol britânico. Para piorar as coisas, o capitão da equipe, Steve Sumner, foi multado antes da competição por dormir fora da concentração e o meia Grant Turner foi cortado da delegação após sofrer uma lesão seis dias antes da estreia.
  Além disso, o estilo linha dura do técnico John Adshead fez com que o goleiro Richard Wilson e o veterano atacante Brian Turner fossem parar no banco durante os jogos da Copa de 1982.


Lata de biscoito comemorativa com a equipe neozelandesa que foi à Espanha. Na foto vemos, da esquerda para a direita, em pé: Glenn Dods, Billy McClure, Brian Turner, Sam Malcolmson, Peter Simonsen, Dave Bright; middle row: John Adshead (técnico), Keith Mackay, Grant Turner, Richard Wilson, Frank van Hattum, Ricki Herbert, John Hill, Kevin Fallon (assistente técnico); agachados: Duncan Cole, Allan Boath, Steve Sumner (capitão), Bobby Almond, Adrian Elrick, Steve Wooddin; inseridos, ao lado: Barry Pickering (acima) e Wynton Rufer

  Logo no primeiro desafio, a 15 de Junho de 1982, na cidade de Málaga, estádio de La Rosaleda, os neozelandeses tinham pela frente a seleção escocesa. Nas prévias da partida, a diferença entre os jogadores ficava evidente, apenas em comparar as equipes que os selecionados de cada equipe defendiam: enquanto os escoceses lutavam por Arsenal, Liverpool e Notingham Forest nas grandes competições da Europa, os “kiwis” disputavam campeonatos semi-profissionais defendendo Miramar Rangers, Invercargill Thistle e Gisborne City.

Duelo de estreia na Copa do Mundo, em La Rosaleda, frente à Escócia

  No primeiro tempo, parece que a pressão de um duelo de Copa do Mundo, a qualidade dos escoceses e o público de 36 mil pagantes assustaram os oceânicos, o que permitiu aos escoceses abrirem três gols de vantagem. Na segunda etapa, Sumner e Wooddin até descontaram para a equipe da Oceania, mas a Escócia voltou a encontrar seu bom futebol, anotando mais dois tentos. O 5-2 mostrou que dificilmente a Nova Zelândia conseguia algo mais do que a participação na Fase de Grupos do Mundial, mas deixou a esperança de uma melhor atuação contra os soviéticos.
  O duelo contra os soviéticos contou com a melhor atuação da Nova Zelândia nos gramados espanhóis. A equipe fez um bom primeiro tempo, chegando até a assustar a meta soviética, mas, em um lance de azar, os vermelhos abriram vantagem. No segundo tempo, mais falhas no sistema defensivo fizeram com que o placar fosse ampliado em favor dos europeus. Com o apito final, a Nova Zelândia sabia que já estava eliminada, mas aquele 19 de Junho, em Málaga, mostrou para o mundo, além de uma boa atuação neozelandesa, uma URSS não tão assustadora quanto o colocada antes do torneio.

Mesmo perdendo por 3-0 para a URSS, a segunda partida no Mundial foi considerada a melhor dos All Whites na Espanha

  O Estádio Benito Villamarín, em Sevilla, foi testemunha ocular de um encontro entre a maior potência do futebol mundial e uma seleção que participava pela primeira vez de uma Copa do Mundo. Os neozelandeses sabiam que apenas uma atuação acima das expectativas evitaria uma goleada história no duelo contra os, então, tricampeões mundiais de futebol. A seleção canarinha apresentava o mesmo “futebol arte” que encantou o mundo na Copa de 70, sendo comandada por Zico, Sócrates, Falcão, Éder e outros craques. Mesmo com o clima festivo do encontro, Adshead não abriu mão de seu time titular, evitando a participação em Copas do recordista Richard Wilson. Castigo ou não, van Hattum não conseguiu segurar o ataque brasileiro, tendo sua meta vazada em quatro oportunidades.

O duelo mais glamouroso da Copa para os "All Whites" foi contra a seleção que encantou o mundo na competição, mesmo não a vencendo: o Brasil

  Ali acabava a primeira  participação dos “All Whites” em Copas do Mundo, mas os jogadores tinham a ciência de que haviam entrado para a história de seu país, além de terem vivenciado um momento que pode ser descrito em um substantivo: um sonho!

Os dois grandes protagonistas dos "Kiwis" no Mundial de 82: à esquerda, Steve Sumner, capitão da equipe e, ao lado, Ricki Herbert, estrela da equipe na época e atual técnico dos "All Whites"

2 comentários:

  1. Bela história! Esses atletas da Nova Zelândia são verdadeiros guerreiros e merecem todo tipo de homenagens. Em uma época muito mais dificil de se chegar a uma Copa do Mundo, já que existiam menos vagas, os neozelandeses surpreenderam e chegaram até o Mundial da Espanha. Parabéns pelo post!

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  2. Agradeço seus cumprimentos. Esses atletas conseguiram um feito inimaginável, principalmente para a época. Já era difícil a Nova Zelândia passar da primeira fase das Eliminatórias, quanto mais chegar até a Espanha, onde se reuniram apenas 24 seleções. São verdadeiros heróis nacionais, como você disse. O legal é ver que eles possuem o reconhecimento dos neozelandeses até hoje, com o R. Herbert sendo técnico da seleção nacional.

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